terça-feira, 25 de novembro de 2008

Viagens


Abandonei este espaço há uns tempos.
As desculpas do costume, muito trabalho, pouco tempo...mas incentivada pela M&M (a garina que vive cá em casa) resolvi regressar e contar um bocadinho da viagem que fiz há uns tempos.

Quénia, Tanzãnia e Zanzibar
As cores, os horizontes, os bichos e o céu são de uma beleza diferente e dificil de descrever, a sensação é de grandeza, de infinitude...
Os locais, sujos, confusos e coloridos são habitados por pessoas pobres, coloridas e para quem o tempo parece não contar.



Ora senão apreciem os empregados de uma bomba de gasolina.

A imagem das pessoas, sentadas, simplesmente a olhar, é frequente.
Faz-me pensar que neste caminho para o primeiro mundo, vamos perdendo esta capacidade de simplesmente, estar, ser, na essência.



Acho que nunca na vida tinha visto tantos miúdos!

(uma raça em vias de extinção neste nosso primeiro mundo)

Há crianças em todo o lado, com olhos vivos, brilhantes.
Pastores pequeninos com rebanhos enormes, crianças que brincam na berma da estrada, crianças de farda escolar...






Nós, os turistas, somos assediados para comprar, para negociar, essa parte eu dispensava.

Confesso que compraria mais coisas e de melhor vontade sem este assédio, que me faz sentir um bocadinho "assaltada".
Achei os lodges, giros e bem integrados na paisagem, sim, pasmem, lá por aquelas bandas parece que há pessoal que pensa nesses assuntos.

Não vi nenhum mamarracho a violar a paisagem descaradamente.
Nas cidades é o caos.
Acho que não se pode discutir muito a arquitetura do caos e das barracas, mas nos parques/reservas, a construção tem alguma preocupação de integração.

Os guias são simpáticos, não são entediantes, mas a força das circunstâncias faz com que nos forcem a estadia em determinados locais para "usarmos a casa de banho" que é a forma swahili de dizer "comprar umas cenas a estes meus amigos", mas...olhando para a forma como a população vive, é fácil de perceber.
Mas também nos mostram o mapa e nos explicam o que significa dividir países, no mapa, com régua e esquadro!

a continuar,



quinta-feira, 20 de março de 2008

Somos um país de novos ricos

O clima nacional é no mínimo, confuso.
Não cumprimos os requisitos necessários para sair do terceiro mundo mas comportamo-nos como se fizessemos parte de uma elite, acima de qualquer primeiro mundo (seja lá o que isso for).
É engraçado (ou não) analisar, por exemplo, a frota automobilistica dos nossos governantes (e temos bué governantes!) depois entrar no local onde trabalho e constatar que:
se despedem secretárias, porque não há dinheiro,
não há obras, porque não há dinheiro,
há cada vez menos médicos, menos pessoal de enfermagem e auxiliar, porque não há dinheiro.
Em contrapartida, temos uma frota cada vez maior de:
consultores (= espécie que trabalha pouco mas é bem paga porque são muito inteligentes e sabem coisas que nós nunca iríamos descobrir se eles não existissem),
computadores (que nascem como cogumelos nos hospitais)
informática do mais elevado nível (dizem),
relógios de ponto digitais às centenas (pronto tá bem, não falo mais nestes),
e a lista do que orgulhosa e ricamente temos pode seguir por aí fora, em paralelo com a lista do que não temos porque...não há dinheiro.
Mas este "novo riquismo" não é um problema hospitalar, é um problema nacional.
A minha filha anda numa escola pública no centro da cidade, eu não sou uma presença muito assídua na escola, mas depois de algumas descrições (que tenho que confessar desvalorizei um pouco), achei que devia ver.
E o que vi?
Salas enfeitadas com coloridos balditos para aparar a água, feltros nas carteiras e corredores para ensopar a água, casas de banho que por decoro não vou descrever, um edificio em lastimoso estado de conservação, os vidros rachados, os laboratórios são...hum, muuuiiitttooo antigos?
Na reunião que se seguiu à minha excursão, ouvi a explicação dada pelos professores para o facto: que não há dinheiro no Ministério da Educação para "socorrer"estas coisas.
Ora o que também é um exercicio interessante é entrar nos ministérios e instituições paralelas e ver que catitas são as salas, as cadeiras, os ares condicionados e vidros duplos, enfim instalações dignas de um país de abundância e prosperidade!
Atão??? Afinal somos pobres e temos que aceitar as condições deficitárias ou somos ricos e dá para tudo?
Não entendo bem mas, especialistas no assunto já me tentaram explicar que isto tem que ver com a Imagem (=nomenclatura moderna para parecer qualquer coisa)
É muito importante para o bem estar nacional que este tipo de instituições (ministérios, institutos e afins) tenham instalações decentes e bem cuidadas para "quando vem alguém de fora" ... os governantes e gestores tenham carritos jeitosos, para quando transportam os "estrangeiros"...
Eu não sou especialista na matéria mas esta coisa da Imagem parece-me estar intimamente relacionada com o tal de "novo riquismo" nacional, o que importa é parecer!
Lendo coisas antigas como alguns textos do Eça, dá para perceber que este "novo riquismo" tão português, já é antigo e tem raizes muito profundas, mas será que não pode mudar nunca?
Como é bom de perceber, hoje o dia não correu bem.
A falta de recursos associada à inépcia e ausência de senso de quem manda, quase me enlouqueceram.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Inveja

Senti nos últimos dois dias uma inveja gigante.
Ao ler um livro que mais adiante vos direi o nome, os meus pensamentos foram invejosos, dava tudo para ter sido eu a escrever aquilo!

Numa linguagem fácil, com uma clarividência invejável, Amos Oz fala-nos de fanatismo, de compromissos e do conflito Israelo-Árabe de uma forma notável, pela sua simplicidade mas acima de tudo pela sua clarividência e profundo conhecimento da Condição Humana.

Sendo eu uma criatura de consensos, acreditando na racionalidade como forma de resolução de problemas, e apaixonada pelo humor e pela imaginação, fiquei muito satisfeita com a comunhão de ideias que senti ao ler este senhor.

Falando de fanatismo, e só para aguçar a curiosidade:

"A essência do fanatismo reside no desejo de obrigar os outros a mudar. Nessa tendência tão comum de melhorar o vizinho, corrigir a esposa, de fazer o filho engenheiro ou endireitar o irmão, em vez de deixá-los ser. O fanático é uma das mais generosas criaturas. O fanático é um grande altruísta. Está mais interessado nos outros do que em si próprio. Quer salvar a nossa alma, redimir-nos. Livrar-nos do pecado, do erro, do tabaco, da nossa fé ou da nossa carência de fé."

Não vou transcrever as três conferências que estão compiladas num livrito pequenino que se chama "contra o fanatismo", mas leiam que vale a pena.

Espero gostem e comentem.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008


E cá estou eu novamente.
Foi numa terrinha pequena plantada á beira do rio Guadiana, chamada Alcoutim, que passei o fim de ano.
Alcoutim é uma terra pacata, que tem aparentemente um único cidadão interessado no seu progresso turístico, o Sr. Luis, um grande bem haja para ele, que nos alimentou a todos durante a nossa estadia, apesar de ser fim de ano!
Pelo que pudemos perceber em Alcoutim não é suposto trabalhar-se no fim de ano.
Ninguém não, trabalha o Sr Luis e os seus colaboradores.

Isto pensava eu até hoje, dia em que descobri que o Sr Luis não era o único trabalhador afincado nesta época!
Recebi uma carta da GNR de Alcoutim, ainda tive esperança que fosse apenas um cartão de Boas Festas, mas não, era mesmo uma multita!

Não, não foi excesso de velocidade, nem sequer foi um excesso.

Aparentemente a zelosa GNR de Alcoutim encontrou o meu carro (o único da rua) num estacionamento de táxis!
Aprendi assim que:
1. GNR de Alcoutim trabalha, mesmo no fim de ano,
2. Alcoutim tem estacionamento para táxis
Resta saber se Alcoutim tem táxis!
Durante a nossa curta e ruidosa estadia acho que não vimos nenhum, mas...se os táxis são mesmo de Alcoutim, também não trabalham no fim de ano e assim sendo é mais que natural que os não tenha visto.

Mas mesmo com multa e tudo, valeu a pena.





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