quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

o "Ar" com que se fala

O "ar com que se fala" é tão importante como o que se diz!

Disseram-me um dia perante a minha incapacidade de disfarçar a insegurança.

Achei estranho, querem lá ver que o que importa é "o ar"? granda merda, como é que vou arranjar um "ar"? Lá estudar...eu ainda sei como é que se faz, agora arranjar um "ar"...
Os anos passaram, lá fui disfarçando a insegurança como pude, e não voltei a pensar neste assunto.

Alguns anos depois voltei a ser novamente confrontada com essa coisa do "ar".
Estando a "não ouvir" um colega falar sobre um assunto (os conhecimentos do orador na matéria em questão eram óbviamente parcos) , segredam-me ao ouvido "Sabes que este gajo é que vai fazer os acordos com as empresas que fornecem isto, a nível nacional?" " Porra mas o gajo não percebe nada disto!" respondo eu com o meu "ar" indignado.
Ao que o interlocutor, mais atento e experiente me responde: "Eh pá parece que és parva, claro que o tipo está bem relacionado mas já reparaste bem no ar com que fala?"

Comecei a olhar mais atentamente a criatura, era verdade, disparava frases sem interesse com um discurso de tipo doutoral, de cátedra.
Sem vergonha, sem pudor, sem ciência, apenas com um fantástico e inimitável "ar".

Agora, mais atenta que tenho andado a este fenómeno, posso afiançar, é mesmo verdade!
O que importa, na maioria das vezes, é o que parece.
Ninguém se pode dar ao luxo de simplesmente...ser.

Claro que os "bons relacionamentos" têm também um papel muito importante!
Penso que merecem mesmo um post dedicado especificamente a essa instituição nacional que é a "cunha".
Fica para a próxima.

6 comentários:

Jose Ruah disse...

Subscrevo, por unanimidade e aclamaçao.

Nao seria capaz de expressar melhor o conceito. E se sei o que é falar com "ar de"

Anónimo disse...

não se rale que o correr do tempo vai dar o seu a seu dono.
Para lhe dar algum sossego(?) sugiro-lhe olhar para fotografias de Thomas Bernhard
http://www.seppdreissinger.at/Bernhard/foto1.htm
e depois para as de Saramago ou outro Lobo Antunes.
Lembrei-me entretanto de dois livros que às tantas gostará, caso ainda não os tenha lido:
"Bartheleby" de Melville
"O ente querido" de Evelyn Waugh
rio tinto
ps. O texto seguinte de Thomas Bernhard é para mim muito importante para separar o trigo do joio:
True Love
An Italian who owns a villa in Riva on Lake Garda and can live very comfortably on the interest from the estate his father left him has, according to a report in La Stampa, been living for the last twelve years with a mannequin. The inhabitants of Riva report that on mild evenings they have observed the Italian, who is said to have studied art history, boarding a glass-domed deluxe boat, which is moored not far from his home, with the mannequin to take a ride on the lake. Described years ago as incestuous in a reader's letter addressed to the newspaper published in Desencano, he had applied to the appropriate civil authorities for permission to marry his mannequin but was refused. The church too had denied him the right to marry his mannequin. In winter he regularly leaves Lake Garda in mid-December and goes with his beloved, whom he met in a Paris shop-window, to Sicily, where he regularly rents a room in the famous Hotel Timeo in Taormina to escape from the cold, which, all assertions to the contrary, gets unbearable on Lake Garda every year after mid-December.

Anónimo disse...

Pois fiquei muito contente de passar a ter oportunidade de te ler.... curiosamente escreves como falas e isso é muito bom.
Leio-te e vejo-te com o teu "ar" animado, inteligente e diverido...
Porque além de conteúdo, consegues ter "ar".
Bjs

C.M. disse...

Caro anónimo
Primeiro agradecer as sugestões de leitura, são sempre benvindas.
Depois folgo em saber que ainda exitem pessoas que acreditam que o tempo fará "o seu chegar ao respectivo dono"...and last but not least, thanks for True Love.

mac
Pois ainda bem que vai havendo quem leia as barbaridades que me ocorrem e lhes ache alguma graça:)
Bjos
BOM ANO

sara disse...

Olha tens muita razão. E tu neste caso até reconheceste a peça como sendo apenas "ar", mas acontece-me muitaz vezes só o perceber mais tarde. Ter Ar confere, realmente algum poder. Como se fazer acreditar que se sabe fosse equivalente a saber. Não é, mas chega lá perto. Com o tempo, uma a uma, as pessoas vão abrindo os olhinhos. E quando a coisa vira, o descrédito é absoluto e muito duradoro. Resumindo: se sabes, bota o "Ar"; se não sabes, tenta pô-lo na mesma e pode ser que te safes...
bjocas

Anónimo disse...

KUANDO O PARECER RESULTA NUM SER...

Bjos
kemtusabes