quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

E mais reformas...


Há muito tempo que não vinha aqui.

Os dias passam a galope, sem deixar tempo para uns pensamentos mais calmos, com pelo menos tempo para os organizar por temas de forma a não soar insano...

Pois claro que continuo a trabalhar numa instituição de saúde, e sou cada vez mais o técnico de saúde "à beira de um ataque de nervos" que deu inicio a este blogue.

Nos últimos tempos (anos?) temos vindo a assistir à degradação progressiva dos serviços públicos de saúde, mais ainda, acho que todos temos noção de que existe uma queda cada vez mais evidente na qualidade dos cuidados prestados e, dos que os prestam.

Agora temos a nova debandada de reformas, que nos vão "roubar" os elementos que estão nas melhores condições de passar o conhecimento, os "mais velhos", estamos a falar de pessoas entre os 55 e os 65 anos.
Nalgumas culturas não muito longínquas, "O mais velho" é respeitado pela sua sabedoria, porque na maior parte das vezes os mais velhos acertam, parece que têm magia, adivinham, daí tornarem-se "Os mais sábios", aqueles que gostamos de ouvir a opinião, alguns já sem o conhecimento tecnológico da geração mais jovem, mas com a sabedoria de quem já observou situações similares muitas vezes.

O tempo ensina.

Todos nós conhecemos a diferença entre o aprendido no livro e o saber da experiência feito, que se alapa à nossa memória porque tem associações visuais, auditivas, olfactivas, sensitivas e emocionais que a tornam inesquecível.

A experiência ensina.

Então como é possível não perceber a valiosidade dos nossos "mais velhos"?

Em medicina esta "passagem de testemunhos", principalmente dos erros cometidos, é de extrema importância, são conhecimentos que nos são transmitidos com "sentidos".

Asneiras que não vamos fazer, exemplos a copiar na resolução de problemas, possibilidades de sermos críticos...enfim uma montanha de coisas que, quem como eu teve a sorte de ter alguns Muito Bons colegas "Mais velhos", com quem acho que posso dizer que aprendi quase tudo, e com quem sei ter aprendido coisas muito importantes como o assumir da ignorância (o que ajuda a não dizer muitas asneiras), ser humilde, pensar nos doentes como pessoas, e outras coisas, mais práticas como: se não gostas muito de estudar arranja uma companhia de trabalho estudiosa, se preferes estudar arranja um colega trabalhador, é tudo uma questão de gestão de recursos humanos e bom senso, não somos todos iguais e a vantagem está na diversidade.


Bem, esta conversa toda para dizer que me angustia a falta de capacidade dos nossos governantes para perceberem a gravidade de deixarem fugir a camada formativa dos nossos hospitais...já há alguns anos que vamos assistindo a esta corrida à reforma, que junta a questão económica à desilusão.

É só um desabafo...caros colegas, já tenho e vou ter, saudades vossas!

2 comentários:

sara disse...

e porque é que correm para a reforma, esses "velhos"?

ao interagir com os indígenas wichi aqui da zona, apercebi-me que o facto de uma cultura não ter registos escritos muda MUITO a maneira de aprender e memorizar... aprende-se o que se faz repetidamente e isso é feito por imitação dos mais velhos. Os mais velhos são o ponto de partida. Sem eles a cultura morre. E longe de mim dizer que os livros não servem mas... dá que pensar! O que aprendes por processos de imitação e a fazer com as tuas mãos parece que fica impresso no teu corpo de uma maneira que a leitura não permite. Não te esqueces mais. Passa a ser parte de ti. Portanto aquilo que descreves parece-me super grave! Como é que se aprende sem conhecer o exemplo dos outros? Às vezes sinto mesmo que anda tudo estúpido...

C.M. disse...

Ora, aqui deste lado do Atlântico, neste cantinho à beira mar, confundimos evolução com ter telemóveis e poder ir à net, está lá tudo! Porquê pagar a pessoas que já não "rendem" como as de 30, apenas e só porque têm mais conhecimentos? Cena de atrasados, que virá a ter o seu preço daqui a uns tempos...não sei, não percebo o que fizeram ao bom senso:-(