quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Exmos Srs Directores Clínicos dos vários hospitais deste pequeno país soalheiro: Desde o dia em que o vosso cargo deixou de ser uma eleição ineterpares e passou a ser um cargo de nomeação...desconfiei. Agora, anos volvidos sobre o acontecimento, confirmei. O que poderia ter sido um preconceito meu, é uma realidade. Em vez de alguém que nos representa e luta pelas pela profissão e pelos deus profissionais, temos pessoas que não só não nos defendem, como maltrata do alto da hegemonia, sob pena de serem destituídos pela hierarquia política se forem demasiado incómodos. Ora esta é o cerne da questão. Não se defende uma classe profissional sem ser incómodo, daí o cargo ter sido desde o 25 de Abril uma eleição e não uma nomeação. Mas, se esta situação já se verifica há anos, porquê reclamar agora? Apenas e só por um detalhe que me irritou e relembrou o que as minhas chefias são e pensam. Foi a cena triste de termos que voltar ao ponto digital em vez do electrónico, parece estúpido certo? Mas mal acabou o período pandemónio a primeira atitude não é agradecer a quem deu o litro, mas antes mostrar que somos todos uns aldrabões e que precisamos de impressão digital para mostrar que estamos presentes, não que trabalhamos óbvimente... E eu reclamo sem motivo prático. Ou seja, o inefáfel ponto apenas serviu para mostar que trabalho muito mais horas do que devia. Fui ensinada a que horário de entrada é para cumprir idealmente (tive chefes muuuuto dificeis sob esta ponto de vista e outros nem por isso) mas o de saída tem a ver apenas com o trabalho estar feito, os doentes vistos e orientados, a consulta acabada. E sim, se estivesse tudo feito mais cedo (raramente deu) podia ir para a praia! Agora, tenho outro problema. Como explicar isto aos mais novos? Eles são educados no relógio de ponto, ou seja, em chegando a hora...vais embora que ninguém te paga nem agradece. Queremos mesmo transformar a actividade médica nisto? Eu, chefe de algumas pessoas, não posso (e não devo) exigir a ninguém que cumpra apenas o preceito de bem fazer. Eles em primeiro lugar e acima de qualquer outra coisa têm que cumprir a hora de entrada e saída... Mas, e se o meu "subordinado" não for capaz de cumprir horários mas for genial? uma pessoa que sabe mais do que as outras mas que se calhar tem insónias e chega mais tarde ou tem "bicho carpinteiro" e precisa de sair mais cedo? sendo apesar disso uma mais valia? por seja por conhecimento ciêntifico, dedicação, humananismo? Azar, a alternativa é um atinadinho dos horários mas com pouca noção de urgência e prioridade ? é preferível? Eu prefiro ser tratada pelo senhor que tem dificuldade em cumrir horários mas que não só, sabe o que faz, e ainda, se eu precisar fica lá comigo até quando eu já não precisar. Uma actividade cientifica e humanitária é como vejo a medicina e, se para a primeira seremos ultrapassados pela IA a outra não pode ser escrava de ponto. O ponto digital, além de deprimente é também uma grande porcaria. Porque diabo temos todos que meter o dedo no mesmo aparelhinho? Não aprendemos nada com a pandemia? Ou é só o SARSCOV que se transmite assim? Enquanto houve SARSCOV em modo pandémico as chefias acharam que o ponto informático servia muito bem e era mais mais higenico, agora deixou de ser necessário???? Não há outros bichos transmissíveis??? Ou não estamos a falar de hospitais? (nota quanto a mim é uma porcaria em qualquer local onde milhares de pessoas têm que colocar o seu dedinho no mesmo buraquinho) Estou chateada, vou então fazer o que me dizem os amigos advogados, recorrer á lei e aos advogados. Não quero meter o meu dedinho nesse local e tendo que o fazer então, quero que me dêm todas as horinhas que me devem em numerário e os dias de folga a que tenho direito. Arranjem lá forma de eu os poder gozar sem prejuízo do fucionamento do meu serviço e dos doentes. Este não é o meu "mojo", nunca foi, mas se calhar tenho que me actualizar. Não vou sequer começar aqui a falar da vergonha que é a promiscuidade publico-privado. Pagam-nos mal no publico, tratam-nos mal e não, já não acredito no acaso. Assim vamos render cada vez mais baratinho ás instituiçõeas privadas que dada a sua característica base (É um negócio) escolhem o filletmignon e a malta do estado que trate o pobre e o doente grave (sim esse para se tratar na privada de algumas patologias mais graves, tem que ficar pobre e já é doente (associação terrível). Estamos a assistir ao desmantelamento do SNS, por opção dos nossos governantes, não é um fado inevitável. Será evitável (já com muitos anos de atraso) se o investimento fôr feito de quem paga impostos para quem paga impostos e não para "salvar" bancos, multiplicar autoestradas e...por aí fora, os exemplos são milhares e torna-se fastidioso e desnecessário dar mais. Salva-se a temperatura fixe do cantinho á beira mar plantado. Deixo para os próximos capítulos as minhas angústias com a actual humanidade no mundo (ou antes a falta dela).